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Dr. Antonio Baptista Gonçalves

PEQUENO ALENTO PARA A EDUCAÇÃO

Em tempos de pandemia do COVID-19 e suas incertezas econômicas, sociais, sanitárias, ambientais e educacionais muitas foram as adaptações à população brasileira para minorar o impacto produzido pela necessidade do isolamento social. Aliás, sobre o tema, o IBGE em pesquisa de agosto, mostra que 42,4 milhões de pessoas ficaram rigorosamente isoladas em suas casas. Fora isso, 74,9 milhões (35,5% da população) reduziram o contato, embora ainda tenham saído de casa, enquanto 88 milhões (41,6%) permaneceram em casa e só saíram em caso de necessidades básicas.

Segundo a Unesco, até 25 de março, 165 países haviam fechado suas escolas por causa da pandemia, interrompendo as aulas presenciais de 1,5 bilhão de estudantes e mudando a rotina de 63 milhões de professores de educação básica.

Com mais tempo em casa a rotina doméstica foi alterada, a convivência aumentou e a presença dos filhos de maneira integral representou um desafio para muitas famílias. Afinal, sem qualquer tipo de previsão ou planejamento, as pessoas se viram obrigadas a adaptar sua rotina de trabalho no ambiente residencial e, por conseguinte, seus reptos. Não raro, reuniões por videoconferência apresentaram a presença inesperada de crianças, animais e, até se encontrar um ponto de equilíbrio, muitos percalços tiveram de ser vencidos.

Na seara da educação os desafios foram pela ausência das aulas presencias e a necessidade de readequação econômica das famílias que perderam parte da renda por questões de suspensão de contratos de trabalho, demissões e, inclusive, redução dos vencimentos para os prestadores de serviços autônomos. Ademais, com o ensino à distância, a exigência da presença dos pais na educação de seus filhos aumentou sobremaneira e foi mais um componente de sobrecarga nesta nova rotina social.

Sem as válvulas de escape tradicionais como os shoppings que possuem lazer, compras, alimentação e cinema, as atividades residenciais implicaram no incremento do comércio online que, segundo estudo da Federação do Comércio do Estado de São Paulo – FECOMERCIO/SP, o comércio online de janeiro a junho deste ano passou de 2,9% para 3,7%, o que equivale a mesma taxa entre 2013 e 2019, isto é, em seis meses se expandiu o equivalente a seis anos.

Então, uma família em que os pais trabalhavam e os filhos estudavam, a maior parte do dia não havia um encontro físico e os horários eram variados, porém, agora, todos convivem continuamente dentro do mesmo ambiente, uma nova e desafiadora realidade.

Para as crianças, a rotina se alterou, o contato presencial com os amigos cessou, as aulas migraram para a modalidade online e as distrações e possibilidades de se entediar são maiores pelo aumento do período dentro de casa. O que pode trazer reflexos na educação. Refletimos.

A mudança no sistema de aprendizado pode ocasionar consequências variadas para as crianças, segundo pesquisa Datafolha, o percentual de alunos desmotivados, de acordo com a percepção de pais ou responsáveis, passou de 46% em maio para 51% em julho. Com o tempo, mais estudantes passaram a ter dificuldades na rotina estudantil, passando de 58% para 67% no mesmo período. Além disso, aumentou de 31% para 38% o percentual de receio dos pais que os filhos desistam da escola.

Assim, ainda que não se saiba ao certo quando os alunos voltarão às aulas e ao convívio diário com os colegas, é concreto que os estudantes não serão os mesmos se comparados ao período anterior à pandemia. Se por um lado temos os problemas acima, por outro, muitos estudantes estão desenvolvendo outras aptidões, como a abertura ao novo, criatividade e resiliência emocional, portanto, o real desafio caberá aos professores em saber lidar com os alunos, os incentivar, motivar e recuperar o interesse tanto pela sala de aula quanto pelo aprendizado.

Ciente das dificuldades começam a ser implementados cursos de capacitação em saúde mental para os professores da rede estadual de ensino. Em São Paulo, a primeira capacitação foi realizada em junho para os gestores regionais (vice-diretores e professores mediadores), do CONVIVA SP, programa de melhoria da convivência e proteção escolar do Governo de São Paulo. Até o final do ano se espera que 150 mil professores estejam capacitados. Dentre os temas abordados temos: depressão, ansiedade, medo, angústia todos potencializados pela pandemia do COVID-19, tanto para os alunos quanto para os próprios educadores.

As consequências da pandemia ainda são incertas e pouco se sabe qual será o impacto real no cotidiano da sociedade brasileira, quantos perderão seus empregos, quantos terão de se reajustar, com cortes de despesas, a nova realidade que se avizinha e a redução da mobilidade urbana acarretou inseguranças e medos nas pessoas independente de sua profissão, portanto, os professores estão inclusos, então, para poder cuidar de nossas crianças preponderante será que a saúde mental do próprio educador esteja em dia.

A capacitação mental surge como um alento e uma nova alternativa para lidar com o isolamento social e seu impacto no cotidiano da educação da rede pública de ensino já tão combalida pela falta de investimento, dificuldades de acesso de internet e demais problemas que foram evidenciados pela pandemia.

O futuro do regresso às aulas questionará cotidianamente o quão preparados estão alunos e professores para o “novo normal” em que as sequelas emocionais, psicológicas e morais serão testadas quando do convívio cotidiano e as necessidades de readaptação da relação com os demais de maneira próxima, depois de mais de um semestre de isolamento e pouco contato. Os desafios somente se avolumam, que a capacitação seja um aditivo para resgatar e reforçar a sanidade dos professores, nossas crianças agradecem.


Antonio Baptista Gonçalves é Advogado, Pós-Doutor, Doutor e Mestre pela PUC/SP e Presidente da Comissão de Criminologia e Vitimologia da OAB/SP – subseção de Butantã.

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